9 de novembro de 2009

A LEI DO TALIBAN ou A LEI DAS CAVERNAS

Não posso deixar de, mais uma vez, lançar o meu protesto contra a inqualificável cena de selvageria contra uma mulher, em pleno século XXI, nas dependências da Uniban, protagonizada por 700 troglogitas  que se dizem estudantes universitários.


Pareciam mais reprresentantes do Taliban em uma ação coercitiva contra as suas subalternizadas e oprimidas mulheres. Se é a Lei do Taliban que está prevalescendo, que venham as BURKAS como uniforme obrigatório para as mulheres dessa universidade retógrada, até sugiro o modelito acima. Cambada de hipócritas! Covardes!


Todavia, corre a notícia de que quem será punida severamente será a aluna, vítima da agressão desmoralizante, com a suspensão de sua matrícula. Isto é uma imoralidade absurda! Em que país estamos?  Este é o Brasil ou estamos no Alfaganistão? Onde fica o MEC nessa história sórdida de país do terceiro mundo?

A União Nacional dos Estudantes (UNE) posicionou-se a favor da aluna Geisy. Em uma nota para a imprensa, a entidade declarou seu repúdio à decisão da da UNIBAN : "Este é um desfecho ainda mais esdrúxulo".  A UNE exige que a Uniban mantenha a matrícula de Geisy, que se retrate publicamente e que tome as devidas providências para que a turba de canalhas  sgressores seja julgada e punida pela própria universidade e pela justiça comum.

Posto aqui o artigo da Debora Diniz - Antropóloga, professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, para reforçar o protesto de colegas em seus blogs e para expressar, mais uma vez, o meu repúdio à violência contra a mulher.




"Vídeos veiculados pelo YouTube mostram a estudante de Turismo Geisy Arruda, da Uniban, em São Bernardo do Campo, sendo xingada e acuada por outros alunos por causa do comprimento do vestido. Ela teve de ser escoltada para fora do prédio por policiais.

O caso não caberia nem em um folhetim vulgar, não fosse o YouTube denunciando a verdade. A "puta da faculdade" é uma história bizarra: uma mulher de 20 anos é vítima de humilhações. A razão foi um vestido rosa e curto que a fazia se sentir bonita. Sem ninguém saber muito bem como o delírio coletivo teve início, dezenas de pessoas passaram em coro a gritar "puta" e ameaçá-la de estupro. A saída foi esconder-se em uma sala, sob os urros de uma multidão enfurecida pela falta de decoro do vestido rosa. Além da escolta policial, um jaleco branco a protegeu da fúria agressiva dos colegas que não suportavam vê-la em traje tão provocante.


Colegas de faculdade, professores e policiais foram ouvidos sobre o caso. O fascínio compartilhado era o vestido rosa. Curto, insinuante, transparente foram alguns dos adjetivos utilizados pelos mais novos censores do vestuário da sociedade brasileira. "A roupa não era adequada para um ambiente escolar" foi a principal expressão da indignação moral causada pelo vestido rosa. Rapidamente um código de etiqueta sobre roupas e relações sociais dominou a análise sociológica sobre o incidente. Não se descreveu a histeria como um ato de violência, mas como uma reação causada pela surpresa do vestido naquele ambiente.


O que torna a história única é o absurdo dos fatos. Um vestido rosa curto desencadeia o delírio coletivo. E o delírio ocorreu nada menos do que em uma faculdade, o templo da razão e da sabedoria. Os delirantes não eram loucos internados em um manicômio à espera da medicação ou marujos recém-atracados em um cais após meses em alto-mar. Eram colegas de faculdade inconformados com um corpo insinuante coberto por um vestido rosa. Mas chamá-los de delirantes é encobrir a verdade. Não há loucura nesse caso, mas práticas violentas e intencionais. Esses jovens homens e mulheres são agressores. Eles não agrediram o vestido rosa, mas a mulher que o usava para ir à faculdade.


Não há justificativa moral possível para esse incidente. Ele é um caso claro de violência contra a mulher. Ao contrário do que os censores do vestuário possam alegar, não há nada de errado em usar um vestido rosa curto para ir às aulas de uma faculdade noturna. As mulheres são livres para escolher suas roupas, exibirem sua sensualidade e beleza. A adequação entre roupas e espaços é uma regra subjetiva de julgamento estético que denuncia classes e pertencimentos sociais. Não é um preceito ético sobre comportamentos ou práticas. Mas inverter a lógica da violência é a estratégia mais comum aos enredos da violência de gênero.


A multidão enfurecida não se descreve como algoz. Foi a jovem mulher insinuante quem teria provocado a reação da multidão. Nesse raciocínio enviesado, a multidão teria sido vítima da impertinência do vestido rosa. As imagens são grotescas: de um lado, uma mulher acuada foge da multidão que a persegue, e de outro, do lado de quem filma, dezenas de celulares registram a cena com a excitação de quem assiste a um espetáculo. Ninguém reage ao absurdo da perseguição ao vestido rosa. O fascínio pelo espetáculo aliena a todos que se escondem por trás das câmaras. Quem sabe a lente do celular os fez crer que não eram sujeitos ativos da violência, mas meros espectadores.


Pode causar ainda mais espanto o fato de que a multidão não tinha sexo. Homens e mulheres perseguiam o vestido rosa com fúria semelhante. Há mesmo quem conte que a confusão foi provocada por uma estudante. Mas isso não significa que a violência seja moralmente neutra quanto à desigualdade de gênero. É uma lógica machista a que alimenta sentimentos de indignação e ultraje por um vestido curto em uma mulher. A sociologia do vestuário é um recurso retórico para encobrir a real causa da violência - a opressão do corpo feminino. Não é o vestido rosa que incomoda a multidão, mas o vestido rosa em um corpo de mulher que não se submete ao puritanismo.


Não há nada que justifique o uso da violência para disciplinar as mulheres. Nem mesmo a situação hipotética de uma mulher sem roupas justificaria o caso. Mas parece que uma mulher em um vestido insinuante provoca mais fúria e indignação que a nudez. O vestido rosa seria o sinal da imoralidade feminina, ao passo que a nudez denunciaria a loucura. A verdade é que não há nem imoralidade, nem loucura. Há simplesmente uma sociedade desigual e que acredita disciplinar os corpos femininos pela violência. Nem que seja pela humilhação e pela vergonha de um vestido rosa.


Debora Diniz* - O Estado de S.Paulo (Assédio em massa)
*Antropóloga, professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero

10 comentários:

Walkiria Dantas disse...

Eva, estou aplaudindo de pé tanto as suas palavras, quanto às de Débora Diniz. Abaixo a hipocrisia e a violência. Quem são esses alunos e alunas para atirarem pedras na colega por causa de uma mini saia? Certamente, fumar maconha e cheirar pó é lícito, decente e adequado, ficarem aos amassos até nos banheiros , isto é aprovado. São uns hipócritas ridículos.

Eva/RN disse...

WALKIRIA
Obrigada pela visita e pelo comentário inteligente.

Jane disse...

Eva, quarenta anos nas minhas costas à favor da liberdade de ser das mulheres e pra nada ???
Esta história me revoltou!
Sensação de fracasso de 40 anos de lutas...
bjk
Jane

Brother Marx disse...

http://piadaapronta.blogspot.com/2009/11/uniban-e-uma-piada-pronta.html


o caso do vestido curto é coisa de estudante... veja no site acima

Eva/RN disse...

JANE
Eu, como mulher, sinto-me vilipendiada, com essa sórdida ação dos estudantes. Pior ainda é saber que a UNIBAN está tentando reverter a culpa dos alunos para Geisy, alegando que ela teria parado no meio da rampa e levantado a saia. Não assim que fazem os delegados nas delegacias, ao receberem uma mulher violentada que presta queixa? O safado que a agrediu é sempre o inocente que reagiu a uma provocação.

maria teresa disse...

Eu tbm estou indignada, é regredir mto, mas como fiquei sabendo ha um tempo atrás eles esses mesmos alunos estavam fazendo uma greve e espancaram uma aluna que não quis participar, e andam reclamando que a imagem escolinha deles está denegrida, e tem como não ser com esses alunos horriveis, bjkas

Kika disse...

Concordo com todo o texto.
Parabéns pelo post!!!

Ps: tb estou com medo da sociedade q se forma a partir desses estudantes.

Eva/RN disse...

MARIA TEREZA
Não é nem somente como mulher que fico indignada, também como cidadã. Só me pergunto
onde fica o MEC nesta confusão que não pune a universidade estimuladora da violência. Ontem a INIBAn retirou a expulsão da aluna, mas a imagem ficará manchada para sempre.

Eva/RN disse...

KIKA

Nós bloguriras temos que meter a boca no trombone. FEminina e Plural é um blog dedica às mulheres. Aqui tanto as louvo e celebro, quando merecem aplausos, quanto as censuro, quando não assumem atitudes louvaveis. Como disse Jane, são muitos anos de luta pelos direitos das mulheres que não podemos deixar ir para a lixeira.

Anônimo disse...

Eva, meu nome é Liane e eu adoro os seus textos.
Também sou fã da Fran como você e gostaria de te passar algo por e-mail. Você poderia mandar um e-mail para mim: totalmentefranfofura@gmail.com
Obrigada e um lindo dia para todos os frequentadores do seu blog.