5 de maio de 2011

Cultivar é o segredo.


Leveza é a palavra de ordem em qualquer circunstância da vida. Naturalidade, autenticidade, segurança e principalmente, certeza de estar aonde deveria e desejaria estar. A chave para isto? Paciência, autoconhecimento, trabalho neste sentido e cuidado. E no amor, a regra também é válida? Como em tudo na vida, no amor e no sexo não é diferente. Cultivar é o segredo. 
Conhecer-se e conhecer ao outro, somam-se a ele. Saber exatamente quem é aonde e com quem deseja estar. Regra tão simples e tão desprezada por nós. Porque é que temos essa estranha mania de acharmos que somos deuses ou bruxos, que nada nos atingirá e que em um passe de mágica tudo se resolverá e ficará rosa e azul? 
Nada mais gostoso que estar nos braços de alguém que sabe exatamente onde queremos chegar. Nada melhor que a certeza de estar sinalizando de uma maneira tranqüila e leve o que gostamos de sentir. Nada melhor, quando tudo isto é transmitido através de olhares e sentidos captados pelo profundo entendimento de um casal que se ama. 
E tem tempo para conquistar isso? Tem. Tem o tempo de cada um e tranquilidade é o que se consegue como resultado, muito ao contrário do que pensam hoje em dia as pessoas que se entregam umas as outras fortuitamente, sem ao menos uma conversa que as identifique em algum ponto. 
É dispensável o tempo determinado entre estágios que medem o grau do relacionamento e ninguém precisa ficar o tempo todo pensando em casamento. Entretanto, algum tempo, palavras, olhares e toques, são necessários para um entendimento. É importante observar se, obedecendo-se a um instinto não estaria abrindo mão de um mínimo de sinalização contra um encontro nocivo e devassador que abalaria a estrutura de corpos e almas em vez de alimentá-los. Algum tempo há de ser dedicado. 
Amar desta maneira não tem nada a ver em firmar um compromisso com alguém; tem a ver exatamente com o contrário. Tem a ver com a leveza do descompromisso e com o comprometimento de ser e de fazer o outro feliz, exatamente ali, naquele momento. E dessa maneira ir construindo uma rede de sintonia fina e apurada a cada encontro. Comprometimento em se doar além de tudo, e além de tudo, receber do outro com gratidão, tudo que vier para fazer feliz. 
Observar, ponderar, cativar a cada dia, a cada encontro. Anotar no coração as sensações, as expressões e todo tipo de manifestação de satisfação ou de insatisfação do seu parceiro e ao ir com ele, ao encontro da alegria de estarem vivos e juntos, mais uma vez, levar consigo, uma cesta de cuidados. 
As impressões não devem buscar a conquista que amarra em uma representação teatral encenando as artimanhas do amor, porém fazer crescer continuamente, o desejo de serem livres e completamente atados um ao outro pelo prazer de estarem juntos e somente isto. As intenções não devem transpor os limites da real felicidade, e nem precisa ser assim, pois é assim que perdemos a melhor parte, justamente quando desfocamos o agora. 
Um desprendimento descomunal, somado a um cuidado visceral acompanhados de uma destreza desmedida em conhecer-se e conhecer o outro, cultivando o amor que por qualquer motivo ou circunstância os una, pode fazer de um casal, o casal mais feliz do mundo. E não tem título ou rótulo que identifique aqueles que os são. Somente eles e neles se pode reconhecer o estado de felicidade em que se encontram. Não tem condição que permita a um casal, saber mais do grau de sua verdadeira união, que o encontro de seus corpos, a sós e em plenitude. Somente a intimidade traçada por eles pode fazer com que transpareçam, aos olhos do mundo, um casal de verdade. 
O que esta fora deles é teatro e de área em área, o fim, está com seus dias contados.
“Não busco aventura, mas alguém que enxergue a vida com todas as cores que ela possui e que queira compartilhar comigo o maior de todos os tesouros, o Amor.” – De um amigo.
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Autora: Jussara Hadadd,  filósofa e terapeuta sexual feminina


3 de maio de 2011

Ainda bem que existe Glória Perez! Ainda bem!



Verdade, as emissoras de TV já não fazem novelas como faziam há anos atrás, quando elas eram a paixão nacional, vistas por todas as classes sociais com entusiasmo e persistência. Novelas inspiradas em obras de escritores de nomeada, como Eça de Queirós (O Primo Basílio, Os Maias), Julio Dinis (As pupilas do Senhor Reitor), Jorge Amado (Gabriela, cravo e canela, Tieta do Agreste) dentre outros, ou saídas da rica e fértil imaginação de Janete Clair, Ivanir Ribeiro, Dias Gomes, Maria Adelaide Amaral, Lauro César Muniz, Benedito Rui Barbosa, Walter Negrão e outros tantos que produziam esplendidas e apaixonantes telenovelas. Novelas que valiam a pena serem acompanhadas, que se tornavam o assunto palpitante no trabalho, nas rodas de amigos e nas ruas. A escreva Isaura e Gabriela, Cravo e Canela correram o mundo, encantando as mais diversas sociedades e pessoas de todas as idades. Em Portugal, tudo parava no horário em que exibiam Gabriela, Cravo e Canela, até o então Presidente Mario Soares parava para ver o capítulo imperdível da excelente trama.
Poisé, mas isto tudo são coisas passadas, perdidas no tempo, juntamente com muitos valores e princípios mais conservadores, hoje considerados ultrapassados. As novelas dos últimos anos, com raras e honrosas exceções estão se tornando cada vez mais medíocres, com tramas repetitivas, pobres, voltadas para o que há de mais sórdido, violento, depravado e lastimável na sociedade contemporânea, nas grandes cidades.  Não há mais enredos construtivos, histórias de amor que priorizem sentimentos profundos, que revelem a face luminosa das relações amorosas, que nos permitam viajar em momentos prazerosos de romantismo e de sonho.
Insensato Coração, a telenovela das 22 h, é a pior de todas que tenho visto. O nível da violência que transita prodigamente em cada capítulo é alarmante. As personagens, de ambos os sexos, são, em sua maioria, tipos de péssimo caráter, inescrupulosos, violentos, agressivos, sem a mínima noção de ética e de respeito pelos direitos do Outro, frios, calculistas e sem um pingo de dignidade. As cenas no presídio são mergulhos sufocantes no submundo do crime e da mais obscura miséria humana, com episódios de extrema violência, como o assassinato de uma presa vingativa e poderosa, com requintes de minúcias, desnecessariamente chocante.
A maldade dos vilões ou dos que se tornaram vilões, causa mal estar, especialmente quando praticada contra pessoas da própria família (pai, mãe, esposa, irmão), namoradas e amigos. A novela não passa de uma colcha de retalhos feita com crimes, roubos, traições, estelionato, mentiras, calúnias, adultérios, aviões que explodem, bandidagem, trapaças, um punhado de jovens piriguetes e muitas
vlgaridades sexuais (tipo BBB11).  E a trama, o enredo?  Bom, é melhor mudar de assunto...  Uma idéia aproximada seria um somatório de programas de Marcelo Resende sobre criminalidade, do programa do SBT Casos de Família, algumas cenas da terrificante Ribeirão do Tempo (Record) e doses cavalares de festinhas e piriguetagens do BBB11.
E a novela das 19 h.?  Ai, Jesus!  É muito ruim...  Será que as telenovelas da Record são melhores? Valha-me Deus! A última que consegui ver até o final foi “Essas Mulheres”, baseada em três romances de José de Alencar. A que se seguiu, abandonei por causa de uma viagem.  Ainda era uma interessante novela. As que vieram a seguir esbanjavam as cenas de violência e brutalidade. Ribeirão do Tempo, que eu via as cenas finais, enquanto esperava a edição de A Fazenda 3, Vi de tudo: O protagonista agarrando a própria mãe e beijando-a na boca, na força bruta, com o intuito de humilhá-la e desmoralizá-la. O mesmo agarrando a Tia e arrantando-a para um quarto, onde a apalpou e ameaçou de “dá-lhe um trato”, se esta falasse coisas sobre ele, além de estar de olho na enteada novinha. No mais era toda a sordidez do mundo do crime, da corrupção política, do estelionato, com sucessão de assassinatos, torturas e baixarias sexuais.
O espectador que já vive bombardeado por noticiários informando, quase sempre com exagerada freqüência, todo tipo de tragédia: tsunamis, enchentes, terremotos, crianças sendo abandonadas no lixo, crianças estupradas, assassinadas, mulheres surradas, roubalheiras em todos os escalões, bandidagem, trafico de drogas, prostituição infanto-juvenil, maníaco massacrando crianças na escola, assassinatos dentro da própria família, de filhos contra os pais, de pais contra filhos... Isto tudo, é carga pesada demais que temos que administrar em nosso emocional, já saturado, à beira do estresse.
Nestes termos, é insuportável ligar a TV para termos uns bons momentos de distração, de alívio das misérias que proliferam à nossa volta, e darmos de cara com a mesma violência das ruas, com as mesmas banalização do amor nas historinhas de amor fake de piriguetes deslumbradas de reality show ou de mocinhas chegadas à piranhagem, ao sexo casual e por ao vai...  Novela é diversão, Ou, pelo menos, deveria ser.  Já tivemos maravilhas da teledramaturgia durante anos seguidos.  
Que saudade das estupendas novelas da Rede Globo.  Ainda bem que ainda existe Glória Perez. Estou revendo O CLONE. Amo todos os trabalhos dessa estupenda telenovelista!