22 de novembro de 2011

Os relacionamentos na era do provisório e do descartável



Às vezes assistimos à consolidação de um determinado comportamento que foi se generalizando sem que nos déssemos conta e, em dado momento, achamos estranho ele estar ali, estabelecido como se sempre tivesse estado. Com o ficar foi mais ou menos assim. Hoje a constatação que se faz é que o ficar não só é um rito de passagem da infância para a adolescência. Definiu-se como uma prática absolutamente comum, que permeia todo o período da juventude, legitimada pelos jovens como uma forma de conhecimento mútuo.
É curioso observar que essa prática passou também a ser adotada por outros grupos de solteiros: os de adultos, às vezes até não tão jovens, que antes se limitavam a assistir ao fenômeno. A tentação é perguntar: afinal viramos todos adolescentes? Não nos aventuremos a tentar esclarecer essa questão em profundidade. Nem os jovens, precursores de tudo, classificam o seu próprio comportamento. É como se dissessem: é assim, e pronto.
O fato é que tornam-se cada vez mais raros os namoros que acontecem sem serem precedidos de um período em que o casal se encontra e fica algumas vezes. Em muitas ocasiões, a idéia de um compromisso futuro está definitivamente descartada no ato de ficar. É quando não se está a procura de namoro e sim de puro entretenimento. É a experiência sensorial compartilhada e interessante para ambos os sexos, sem nenhuma questão moral envolvida.
Numa cultura onde o transitório e o descartável cada vez têm mais lugar, o ficar parece representar o máximo possível de uma relação provisória. Nesse caso, os envolvidos, em princípio, estão interessados apenas nos bônus da experiência sensorial. Os ônus seriam os do compromisso.
E quais os ônus, aparentemente tão elevados, que adviriam do compromisso? É mais fácil saber do que falamos, uma espécie de horror ao compromisso, se pensarmos na sociedade de consumo em que vivemos hoje em dia e nas regras que ela gera . A substituição de tudo por algo melhor é a tônica de nossa cultura na atualidade. Assim, pode-se ficar com alguém mas deve-se estar, ao mesmo tempo, sempre aberto à possibilidade de aparecer alguém melhor. É o consumo aplicado às relações pessoais.
Outra possibilidade de entendimento é que parece existir a crença de que, nas relações com esse caráter provisório, se está protegido do sofrimento trazido pela perda eventual da pessoa amada. Se não existe o vínculo afetivo com o outro, não se sente dor quando ele se vai. Seria supostamente um modelo de relacionamento interpessoal de menor risco, digamos assim.
O que não se considera é que são as perdas e as suas elaborações que nos fazem crescer como indivíduos, e nos tornam mais aptos para o amor em geral. As relações descartáveis, ao contrário, se muito repetidas, podem se transformar num padrão internalizado, que assim passa a moldar todos os relacionamentos. Isso certamente fará com que haja um empobrecimento afetivo nas relações dessas pessoas, impedido-as de terem experiências emocionais mais plenas com os outros e com a própria vida.
De qualquer forma, tudo o que está sendo dito não encerra a questão, ao contrário, é apenas um convite à reflexão sobre um fenômeno contemporâneo, presente em nossa cultura e em nossas vidas, de uma ou de outra forma.
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Fonte: Simone Sotto Mayor. Médica Psiquiatra e Psicanalista
Fonte: Rev. Rio Total

4 de novembro de 2011

Apesar dos pesares, continue acreditando!



Nossa visão do mundo é muito limitada. Mesmo nossos sonhos mais longínquos não nos permitem ir mais além, quando nosso eu está ferido. Quando tudo vai mal, quando não conseguimos acrescentar uma gota sequer de solução aos nossos problemas, começamos a ver o mundo como se tudo fosse cinza, como se tivéssemos o poder de ir apagando toda a beleza que está espalhada à nossa volta.
A questão nem é ser negativo, pois uma pessoa negativa o será sempre, mas é de ir deixando aos poucos de acreditar que algo possa ser mudado, simplesmente porque o tempo é interminável quando sofremos ou esperamos alguma coisa que tarda a chegar, ou ainda quando tomamos as dores dos outros acompanhando o movimento do mundo. Mas mesmo quando tudo estiver cinza, quando as possibilidades de saída te parecerem como muros altos e instransponíveis, continue acreditando! Não deixe a peteca cair! Eu garanto que enquanto você se mantiver em movimento para construir alguma coisa, a esperança vai estar no seu caminho como uma vela acesa iluminando sua passagem.
As esperanças só morrem quando morremos em nós, quando deixamos de acreditar que a vida é esse monte de vivências às vezes contraditórias, doloridas e belas ao mesmo tempo. Jamais permita que a tristeza tenha símbolo do seu nome! Que ela venha quando não puder evitá-la, mas que fique justo o tempo necessário para ensinar alguma coisa. Pare um pouquinho e olhe a natureza: ela nunca desiste! As estrelas continuam brilhando apesar dos vendavais que agitam as nuvens. A solidão às vezes é benéfica, quando nos faz refletir sobre nosso eu e nossas razões de vida. Mas não deve ser uma companheira inseparável que nos isola do mundo. Há mãos estendidas na nossa direção. Sempre há! Só não vemos quando olhamos pra trás ou quando fechamos os olhos.
Mesmo quando não acreditamos em mais nada, Deus continua acreditando em nós. E Ele renova nossas forças, nos sustenta, nos mantém de pé, ainda se nossos joelhos se dobram e nos sentimos incapazes de continuar. O importante é continuar essa aventura da vida, sem baixar os braços, sem baixar a cabeça. Temos todo o direito de cair, mas temos o dever de resistir. Ainda que a lua se consuma e o sol desapareça, que o infinito se desfaça e a terra se perca, há esperança para cada um de nós. Eu acredito! Eu sei que muitos e muitos precisam continuar acreditando que o melhor ainda está por vir.
E desejo que acreditem! Acreditam sempre! Obrigada ainda a todos vocês que juntam-se a nós agora e aos que já estão há tempos. Somos uma grande lista e se cada um de nós passar um pouco pelo menos de esperança a uma outra pessoa, o mundo já terá tido uma mudança positiva. Quando se trata de amor não devemos quebrar correntes, mas criá-las. Que esse dia e noite sejam abençoados. Que haja um brilho especial para cada um! Que o Senhor esteja presente a cada momento!

Letícia Thompson
Imagem: Grandes Sonhos, jpg.