A notícia do falecimento de Lady Laura deixou-me com imenso pesar, especialmente por saber da dimensão imensa do amor que ligava mãe e filho. Sinto mais esta perda dolorosa de Roberto Carlos, meu amado cantor, desde a época da Jovem Guarda, quando éramos ainda tão novos. E eu, como muitas jovens da época, vivia intensamente os anos dourados do Rock, dos Beatles, de Elvis e, também, dos nossos cantores do chamado “yê, yê, yê”, daquelas “alegres tardes de domingo”.
Lady Laura foi uma mulher extraordinária e uma mãe dedicadíssima que soube sonhar, até as últimas conseqüências, os sonhos do seu filho, acreditando em seu talento e na qualidade de suas músicas. Foi ela quem ensinou ao Roberto os primeiros acordes no violão, foi ela quem o levou a cantar nas matinês infantis da Rádio de Cachoeiro de Itapemirim, além de ter sido a grande incentivadora do talentoso filho.
Durante toda a trajetória artística de Roberto, uma única vez Lady Laura aceitou dar uma entrevista para a revista Contigo, no dia das mães, em 2004. Não que tivesse alguma coisa contra a imprensa, apenas não achava certo aparecer sob as luzes dos holofotes que, na verdade, não lhe pertenciam, pois não era nenhuma celebridade. A única celebridade era o seu filho.
Dotada de uma enternecedora simplicidade e modéstia, era avessa ao luxo e a aparatos sociais, a tratamentos formais. Gostava de ser chamada simplesmente de Lalá. Ela ia a todos os shows de Roberto, mas nunca ficava na platéia. Seu lugar preferido era nos bastidores. Ela o acompanhava e dava-lhe a benção, sem a qual ele não ficava seguro para começar seu show.
Esta mulher e mãe maravilhosas tinha uma consciência tão profunda da ligação fortíssima que os ligava que dizia, cheia de serena convicção: “ Eu e Roberto somos unos, somos uma pessoa só”. Esta é a mais bela história de amor que já conheci entre duas almas gêmeas que vieram à presente encarnação como mãe e filho. E como tal viveram uma relação espiritual de amor platônico que transcendia ao plano meramente humano e os projetava nas estrelas.
A canção ”Lady Laura” é um hino do amor filial de um filho que guarda na memória e no coração uma lembrança extraordinariamente feliz da sua convivência com a sua mãe. O perfil de Lady Laura é o de uma mãe presente, amiga, carinhosa, que tinha sempre a palavra certa para serenar e dar confiança ao seu menino, que tinha os braços abertos para o abraço necessário nos momentos de aflição, era o sorriso certo na alegria e a mão estendida nas horas difíceis. Aos 96 anos, esta alma pura pegou as asas brancas e voou para o Infinito, voltou para casa, de onde, decerto, continuará a acompanhar e a abençoar seu amado menino...
Lady Laura
Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino,
E na hora do meu desespero
Gritar por você,
Te pedir que me abrace
E me leve de volta pra casa,
E me conte uma história bonita
E me faça dormir.
Só queria ouvir sua voz
Me dizendo sorrindo
Aproveite o seu tempo
Você ainda é um menino.
Apesar da distância e do tempo
Eu não posso esconder.
Tudo isso eu às vezes preciso escutar de você
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conta uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
Quantas vezes me sinto perdido
No meio da noite,
Com problemas e angústias
Que só gente grande é que tem.
Me afagando os cabelos
Você certamente diria
Amanhã de manhã você
vai se sair muito bem.
Quando eu era criança
Podia chorar nos seus braços
E ouvir tanta coisa bonita
Na minha aflição.
Nos momentos alegres
Sentado ao seu lado, eu sorria
E, nas horas difíceis
Podia apertar sua mão
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conta uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino
Muito embora você sempre acha que eu ainda sou
Toda vez que eu te abraço e te beijo
Sem nada dizer
Você diz tudo que eu preciso
Escutar de você....
(ROBERTO CARLOS)
Um comentário:
Ana Paula - Ba
Eva, com certeza ele foi muito amado por sua matriarca. Era uma relação intensa, profunda e linda. Que Deus a receba com todas as glórias da pessoa maravilhosa que ela foi em vida. Para o nosso rei fica a saudade, mas a certeza de ter vivido intensamente essa linda relação de mãe e filho.
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