12 de setembro de 2014

O incessante e inútil bombardeio à Marina Silva


A candidatura de Marina Silva demonstra, neste momento, um grande poder de resistência, após duas semanas de incessante bombardeio: de um lado, a mídia corporativa que apoia Aécio Neves, com manchetes diárias; de outro, o petismo, com um exército de ativistas empenhados em um vale-tudo cujo objetivo maior não é divulgar as próprias propostas, mas desqualificar, assassinando a reputação da ex-aliada.
Em termos eleitorais, o resultado de quinze dias de baixaria é, até agora, pífio: Marina mantém, nas pesquisas, os mesmos percentuais de voto e Dilma oscilou um misero pontinho acima, no que foi saudado pelo militantismo delirante como “recuperação” e “virada de jogo”. Voltemos ao mundo real: no segundo turno, os prognósticos continuam sendo de uma avassaladora vitória da candidata do PSB, por 10 pontos de vantagem. LEIA MAIS, clicando na frase abaixo.


Contra o feiticeiro

Os especialistas em eleição costumam afirmar que o eleitor brasileiro não gosta de ataques baixos, os quais tenderiam a lhe parecer antes fraqueza de quem ataca, gerando resultados nulos ou mesmo contraproducentes. Esta seria uma possível explicação para a ineficácia do pega-pra-capar contra Marina aplicado diuturnamente, sem descanso, pela grande mídia e pelos ativistas petistas, alegadamente tão antagônicos entre si, mas idênticos nos métodos baixos que os últimos outrora condenavam.
Outro modo de explicar tal fenômeno seria a de que o eleitor já se deu conta de que basta uma breve mirada histórica para constatar que os petistas, após 12 anos no poder, não têm moral para fazer as acusações que fazem a Marina. Por exemplo, como pode a candidata Dilma acusar sua adversária de ser “o novo Collor” se este, apesar de seu passado na Presidência e de todo o despudor com que manipulou eleitoralmente a filha de Lula contra o ex-presidente, é hoje um aliado preferencial do Planalto?

Amnésia seletiva

Como pode a campanha do PT tentar difamar Marina por esta defender um Banco Central independente, se nos oito anos do governo Lula tal independência foi rigorosamente obedecida, e por imposição internacional? (foi uma das exigências dos EUA para avalizar um empréstimo-ponte acordado por FHC e Lula em Washington, como forma de evitar que o petista recebesse, em janeiro de 2003, um país quebrado. A escolha do nome de Henrique Meirelles foi parte do acordo).
Como pode a campanha dilmista pretender acusar Marina de submissão ao poder religioso, se um dos traços distintivos do governo Dilma foi o extremo conservadorismo das políticas de gênero e comportamentais ditado justamente pelo acordo com a bancada evangélica, responsável por episódios lamentáveis como o veto ao “kit-gay”?
A campanha petista pensa que os eleitores são idiotas, que esqueceram que o PT permitiu ao “pastor” ultraconservador Marcos Feliciano presidir a comissão de Direitos Humanos da Câmara, numa demonstração acintosa do desprezo de Dilma Rousseff por tal tema? Ou que evaporou da memória do eleitorado a presença oficial da presidente Dilma na inauguração do templo faraônico da igreja do “bispo” e dono de império de comunicação Edir Macedo?

Dilma Duarte

Em mais uma prova de que história só se repete como farsa, o PT reedita, neste momento, a campanha do medo da qual foi alvo em 2002. Desta feita, com a própria Dilma encarnando a Regina Duarte da vez. Bradam que as conquistas sociais estão sob ameaça e que a politica econômica, sob Marina, será um retrocesso ao neoliberalismo.
Trata-se de uma dupla inverdade. Em primeiro lugar, porque Marina Silva, além de manter os programas de transferência de renda que começaram, foquistas, com FHC e se avolumaram consideravelmente com Lula e Dilma, vai restabelecer interlocução e assistência a setores da população que o próprio modelo “Brasil Grande” de desenvolvimento adotado por Dilma alijou e alienou. É o caso, notoriamente, dos indígenas e das populações nativas da Amazônia, dos setores da juventude e da classe média que não se identificam com o petismo e são sacrificados pelo modelo econômico adotado (que beneficia a base e o topo da pirâmide socioeconômica), bem como pelos manifestantes que tomaram as ruas do país a partir de junho de 2013 e que o petismo primeiro renegou, depois tentou cooptar, e por fim reprimiu brutalmente, aludindo a teorias conspiratórias e sem sequer entender do que se tratava.


Truques econômicos

Em segundo lugar, porque entre o programa da candidata do PSB relativo à economia e a política econômica dos 12 anos de petismo no poder não dá pra espetar um alfinete: são rigorosamente iguais. Não há uma só proposta relativa a tal área, no Programa de Governo do PSB, que Lula ou Dilma não tenham adotado em algum momento.
A crise econômica, cuja prova mais evidente é o fato de estarmos em recessão técnica e com PIB abaixo de um por cento, não é fruto de eventual heterodoxia, mas das barbeiragens da equipe econômica do governo Dilma, que no bojo de um modelo de desenvolvimento arcaico e predatório, insiste em um padrão esgotado de estímulo ao consumo e de concessão de isenção fiscal sem exigir contrapartida por parte dos setores beneficiados – notadamente, o automobilístico e o imobiliário. E, justamente por sua falta de coragem em confrontar o mercado e oferecer uma alternativa ao modelito neoliberal, prefere reafirmar a todo instante segui-lo, ainda que para tal faça uso de maquiagem de índices e de truques internos ora sob investigação do Ministério Público.


Tudo pelo poder

A atual campanha ilustra de forma explicita o messianismo, o fanatismo e o apego extremo ao poder que são hoje, características distintivas do petismo. A um processo de negação da crise econômica atual e dos diversos aspectos negativos que, em longos 12 anos de administração, não tiveram competência de mitigar, soma-se a tendência a se autoatribuírem a exclusividade na concessão de benefícios sociais e em governarem para a sociedade. O maior triunfo do petismo é multiplicar a fortuna das elites financeiras e agrárias e, ao mesmo tempo e mesmo assim, convencer a tantos que é uma força de esquerda.
Essa conversa mole pode funcionar entre fanáticos da seita, entre ativistas virtuais remunerados e blogueiros temerosos de perderem o patrocínio de estatais, mas não resiste ao exame rigoroso dos fatos. O PT é hoje um partido preso a alianças elásticas (e aos compromissos que elas trazem), a ponto de se descaracterizar como força da esquerda. Adotou uma ética tão flexível que nem o trauma do “Mensalão” foi capaz de provocar uma revisão das práticas e de sua axiologia de forma a resgatar os valores de suas primeiras décadas de existência, sacrificados em prol de um ultrapragmatismo em que o que interessa é o poder pelo poder, não importa a que preço.

Maniqueísmo

Os adversários, alvo de artilharia pesada, são caricaturalmente tipificados de acordo com um maniqueísmo tão irreal quanto pouco inteligente. A caracterização que ora fazem de Marina Silva parece saída de um conto de fadas ruim: maléfica, pérfida, arrogante, hesitante, fanática. Em pleno 2014, nem uma criança acreditaria em uma personagem tão desprovida de nuances ou qualidades.
Há de se perguntar como tal bruxa repugnante pôde fazer parte da história petista por tantas décadas e com tanto destaque, sendo uma internacionalmente reconhecida ministra do Meio Ambiente nos sete anos que serviu ao governo Lula e chegando a disputar com Dilma a preferência como sucessora deste. Que mudança terrível em tão pouco tempo teria afligido a criatura?!


Sem medo do debate

Desacostumados, na última década, do saudável exercício da autocrítica, substituído pela transferência automática de culpas à mídia (que covardemente se recusaram a regulamentar) ou a Joaquim Barbosa e aos ministros do STF que condenaram os réus do “Mensalão” (em sua maioria, por Lula e Dilma nomeados), os petistas passaram a se assemelhar, cada vez mais, a uma seita, baseada em dogmas e fanatismo, mas não na leitura criteriosa do fatos e na prática ética da politica, pois nesta propostas, diálogo e respeito aos demais candidatos e eleitores se sobrepõem aos ataques desqualificadores.
Enquanto a baixaria petista corre solta, num desserviço às práticas políticas no país e às eleições, Marina Silva segue fazendo uma campanha sóbria, baseada em programas, sem ataques desqualificadores e comparecendo às entrevistas e debates, de modo a debater suas propostas. Pode-se ou não identificar-se com elas e na candidata votar - isso é uma decisão que pertence a alçada individual -, mas há de se reconhecer que se Dilma e o PT fizessem o mesmo, ao invés de só lançarem pedras, teríamos um confronto de ideias e de programas digno de uma democracia. Não é o caso.

Autor desconhecido.

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