5 de junho de 2010

Mulheres, fingir não é a solução!

O palco era aquela enorme cama king size completamente branca e macia. A peça era a noite de amor de um casal incandescente de desejo e paixão. E a cena principal era com a mulher que, como protagonista, convencia, como ninguém, o seu amado sobre a existência de uma explosão que no universo feminino muito se fala, mas pouco se conhece de verdade. O tema da peça: o orgasmo feminino.

- Ai, meu Deus, você é demais. Assim você me enlouquece. Eu não estou agüentando mais. Ai, ai, ai. Ui, ui, ui, você é maravilhoso. Aiiiii, nossa, fui ao céu e quase não voltei. É mais ou menos dessa maneira que muitas de nós representa o orgasmo em uma relação sexual. E esta representação se dá quando ele acontece, ou não! Os motivos, bom, dos motivos nós vamos falar agora. Talvez não consigamos nos lembrar de todos, mas dos mais corriqueiros, com certeza. Vamos falar também, além da necessidade de representar esta magnífica sensação, porque, muitas vezes, ela nos é tão inacessível?

Não podemos prescindir aqui de alguns fatores que incidem sobre a nossa vontade. A vontade, em primeiro lugar, seria a mola propulsora para a sensação que tanto almejamos. Muitas mulheres, apesar de terem sua libido em perfeito estado e ordem não conseguem priorizar a vontade de estar em completo envolvimento com o homem em uma relação sexual. Isso se deve à sua enorme preocupação com elementos, como seu corpo, suas roupas, seu cheiro e no que aquela relação vai dar (isso no caso de a relação ainda não estar consolidada).

Na hora do amor, muitas mulheres estão preocupadas em disfarçar e evitar as posições onde sua celulite não apareça, em que suas estrias não sejam notadas e que seus seios pareçam mais firmes do que são. É engraçado, mas elas idealizam posições fora da cama, de frente ao espelho, onde seus corpos assumem uma silhueta mais fotogênica, digamos assim, e querem que durante o sexo seus parceiros a vejam dessa maneira. Se a concentração está voltada para este ponto, como é que ela vai conseguir liberar seu corpo, sua mente e seu coração para sentir algo durante aquela relação? Concentração em sentir, seria um fator de grande relevância.

Cabeça de mulher é um universo indecifrável. Ela pensa tudo ao mesmo tempo. Ora sofre porque quer amar demais e outra porque não quer amar tanto. Sofre porque quer ser liberada e sofre porque tem que atender a conceitos impostos pela família, pela igreja e pela sociedade que a impedem disso. Este seria outro impedimento irrefutável. A mulher desenvolve bloqueios psicológicos que a leva a conflitos existenciais e de relacionamentos, muitas vezes dificílimos de serem resolvidos e que normalmente são refletidos na hora do sexo. 
 É intrínseco à dificuldade de a mulher sentir de verdade o orgasmo é a própria cobrança em sentí-lo. Cobrança dela e do parceiro. O orgasmo não é imprescindível. Não pessoal, não é. Aquilo que chamamos de explosão orgástica, na verdade é apenas um milésimo do prazer que podemos ter, que podemos alcançar. Muitas vezes deixamos de sentir todo o prazer que uma relação pode oferecer ao ficarmos obcecados por este instante. É importante compreender que este clímax que tanto buscamos tem muito mais chance de acontecer quando aprendemos a nos entregar de verdade à relação toda. Se relaxamos e curtimos a companhia do parceiro, a pele, o cheiro, as carícias sem nos importarmos muito se este vai ou não chegar, com certeza este prazer final virá.

Mais um empecilho ao orgasmo da mulher é sem duvida a rapidez com que o homem quer manter uma relação sexual. Para mulher que já aprendeu a "transar por transar", isto não é impedimento nenhum, mas para aquelas que precisam de toda uma história, e isto é regra para a maioria das mulheres, as carícias preliminares, o romance, a preparação, fazem muita falta mesmo. O que resolveria neste caso, quando o parceiro estiver mais apressadinho, e a mulher não conseguir acompanhar o seu ritmo, e tiver um orgasmo durante o coito, é o pós. O homem atencioso e que quer ver sua mulher satisfeita a ajudará, com carícias, com o sexo oral ou mesmo com novo coito onde ele agora, mais calmo, se dedique mais a ela.

Existe também o fator anatomia onde as diferenças de tamanho dos corpos e dos sexos dos dois não contribuem muito para que o sexo com penetração flua em um orgasmo de qualquer qualidade que seja. Um homem muito corpulento, com uma barriguinha avantajada e uma mulher pequena e o contrário também, um homem de estatura mediana com uma mulher mais gordinha, exigem posições sexuais especiais que contribuem para o prazer. Se o casal não estiver receptivo ou antenado a estas variações e só entender o sexo de uma maneira convencional, dificilmente ele será prazeroso.

Quanto à diferença de tamanho dos sexos, no caso de um pênis muito grande e uma vagina pequena, o cuidado e o carinho na hora da penetração resolvem isto bem. No contrário, onde a vagina é maior que o pênis, um recurso infalível são as contrações vaginais na hora da relação. Uma vagina forte pode ajudar muito a mulher nesta hora e o homem, de quebra, ganha sensações indescritíveis.
O que não pode!
Acreditar na conversa das amigas. Amigas têm a mania de mentir, dizendo que conhecem muito bem o orgasmo, que explodem nos braços dos seus homens e que você é a única no mundo que não sabe o que é isso. Isso deixa muita mulher maluca e elas transam obcecadas nesta sensação. Você é você e pronto. Construa o seu mundo sexual.
Fingir não vale. Fingir gera frustração, culpa, cobrança e desentendimentos irreversíveis na maioria das vezes, porque só se finge quando não se pode falar sobre o assunto e, neste caso, como em tudo na vida, todo problema que não é bem esclarecido só pode dar em confusão. Se o sexo de vocês não anda bem avalie com frieza de onde vem o problema e converse a respeito. Sem orgulho e sem vaidade, regra básica para um bom entendimento.

Não responsabilize totalmente o seu parceiro. Você é capaz de se realizar sexualmente sozinha? Sabe o que gosta de sentir? Onde gosta de ser tocada? Esta pode ser a chave para uma vida sexual plena. Se conheça bem, saiba sinalizar como gosta de sentir prazer e divida isto com ele. Regrinha básica: ninguém é responsável pela nossa felicidade ou infelicidade. Está em nós.

Deixe o mundo lá fora. Por favor, não leve ninguém pra dentro do quarto com vocês. Nem mamãe, nem papai, nem as freiras do colégio onde estudou, nem os santos para quem você reza. Ninguém! Não é todo mundo que tem talento para ser filmado nesta hora, né?
Deixa fluir, tudo que é fácil acontece melhor.


Autora: Jussara Hadadd é terapeuta holística,

especializada em sexualidade 

                                                              

Um comentário:

Elis (Coisas de Lily) disse...

Ótimo texto!!!!
Vou divulgar.
Beijos!