Em um tempo onde o desamor deflagra guerras, exclussões e solidão; onde muitas vezes é fato gerador de conflitos, traumas e violência e onde é preocupante e necessário o trabalho de profissionais, educadores e famílias no sentido de motivar valores, dentre eles AMOR; como pré-condição de respeito, crescimento e humanização, me vejo agora falando de um grupo, que tive o prazer de conhecer - Grupo Mada (Mulheres que amam demais anônimas).
E incluem-se aí mulheres que amam demais os filhos, a família, o parceiro sentimento no qual chamamos de dependência de pessoas. Mulheres que ultrapassam os próprios limites por amor, por excesso de amor; e que por ultrapassarem, por se excederem, perdem a noção do comportamento que desenvolvem na relação elas retificam-se, redimem-se, mas reincidem nestes comportamentos. E este círculo vicioso acaba levando-as a comportamentos auto-destrutivos e a sintomas de doenças.
O ser humano necessita de uma identidade, onde o mais importante não é o que "ele é", mas "quem ele é". Ele precisa saber o que sente, porque sofre, o que lhe faz bem, o que é melhor para ele. A partir daí, sendo consciente de suas potencialidades e fraquezas, se comunica melhor com o outro. Porque é o "outro" da relação que lhe confere a identidade. Nesta comunicação mais verdadeira e inteira, está a possibilidade do amor, que é a disponibilidade de um em relação ao outro, cada envolvido abrindo mão do próprio egoísmo. Mas isso talvez fosse o ideal e muitas vezes é difícil até se aproximar do ideal.
Quase todos procuram realizar o que seria ideal, mas muitos sentem dúvidas e é inevitável que as coisas aconteçam freqüentemente de modo diferente do que esperavam. A partir daí surgem perguntas como:
Será que ele vai demorar?
Ele pode gostar de mulheres mais bonitas?
Ele não gosta mais de mim?
Por que prefere tudo e todos a ficar comigo?
São freqüentes questionamentos a que estão submetidas as "madas" pelo mundo afora, e olhe que elas são muitas e em crescimento. A estes questionamentos somam-se sentimentos de ciúmes, dor, medo, aflição, frustração.
De certa forma incapazes de demonstrar suas emoções de outra maneira, as "madas" desenvolvem comportamentos e atitudes de perseguições constantes, vigilância, superproteção e até agressividade. Isto mesmo. Feridas até a alma no seu amor, agridem o objeto deste amor.
É complexo, mas é rotineiro. A rede Globo enfoca mais uma vez, um tema de grande alcance e toda a mídia vai trilhando o mesmo caminho. Que bom! Muito positivo o esclarecimento que surge daí, que irá refletir em busca de soluções para milhares de pessoas. Melhor ainda quando tantas mulheres, sufocadas pelo próprio sentimento, se percebem em outras, com histórias semelhantes, com medos e dores, mas também esperanças. É esta esperança que as motiva a buscar o grupo, a persistir no grupo e a trazer novas pessoas. Fortalecendo o crescimento pessoal.
Como participante em reuniões de AA. NA. e MADA, pude constatar a importância da freqüência ao grupos de apoio para dinamização da partilha, do encontro, do reconhecimento, da coragem e da cura.
Deixar de lado a maneira como colocam a própria felicidade na mão do outro, modificar padrões, assumir que até então eram fracas diante da relação, acreditar que podem fazer juntas o que não conseguiram sozinhas são fatores de motivação para freqüência aos grupos.
Como psicanalista, acho muito importante o grupo Mada uma vez que são constantes em consultório, queixas de mulheres que sufocadas pelo amor que dizem sentir, se anulam vivem pelo "outro" e não "com o outro", impedem os filhos de crescerem, não estabelecem metas nem objetivos pessoais, não realizam atividades sem a presença do parceiro, diminuem o convívio sócio-familiar, sentem ciúmes exagerados e medo constante de perder seu objeto de amor. Não crescem, pelo menos não como poderiam, afetiva nem profissionalmente. E depois de tanta dedicação, ao menor indício de falha ou falência do relacionamento estabelecido, se anulam mais, ficam deprimidas, inseguras e sentem –se injustiçads . Nutrem sentimentos de amor e ódio. Por terem doado tanto, queriam muito também. Precisam da segurança e da fidelidade como do ar que respiram.
Precisam do amor. Mas do dar e do receber! Entre os extremos do desamor e do excesso do amor existe o equilíbrio. Tem-se como buscá-lo. É possível encontrá-lo. Existem caminhos!
Que estas mulheres continuem anônimas e respeitadas nas suas profissões, seus endereços, nomes e parentescos. Mas que suas dores se revelem, para que deixem de doer!
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Bibliografia sugerida:- Mulheres que Amam Demais
- Mulheres vencedoras
- De Mariazinha a Maria
- Mulheres boas vão para o céu, as más vão para a luta
- Adeus Bela Adormecida.
- Mentiras que os homens contam.
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Vânia Fortuna é psicanalista e conselheira em dependência química
na clínica Psicomed
Um comentário:
Amiga, vim deixar meu beijo de dia das mães pra vc, que tenho certeza ser uma mãe excepcional. Saudades de ti.
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