18 de agosto de 2009

Mulheres sob o signo de Narciso

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A personagem interpretada por Cristiane Torloni (Melissa) na novela Caminhos das Índias configura-se como uma perfeita metáfora da obsessão pela juventude e pela beleza que cresce, cada vez mais, entre as mulheres, especialmente após completarem seus quarenta anos de idade. Claro que não data de hoje o culto à beleza e a vaidade feminina, ela se perde na memória do tempo. Todavia, nunca foi tão exagerada e obsessiva como está sendo no terceiro milênio, no qual parece só existirem dois valores preponderando no universo feminino: beleza e juventude, o que significa uma extremada preocupação com a aparência.

Assim, entre o Parecer e o Ser ganha de longe a superficialidade do parecer em detrimento da fundamental importância do Ser, da essência, dos conteúdos da interioridade e da consciência de si mesmas, tão fundamentais para a afirmação e o sucesso do indivíduo em seus empreendimentos e no seu conceito como pessoa, ambos indiferentes para os fatores beleza e juventude.

É natural que as mulheres desejem prolongar a aparência jovem do rosto, que cuidem da pele, que usem recursos de preenchimento de rugas e até cirurgias reparadoras, que se esforcem para manter os corpos esbeltos e os músculos em forma, procurando as academias e preocupando-se com a alimentação correta. O que é condenável é o excesso, é a volúpia com que partem para as sucessivas lipos, plásticas, preenchimentos com botox e metacrilato, mas das vezes piorando a aparência, ficando irreconhecíveis. Algumas de tanto fazerem musculação pesada, ficam com aparência de Rabos de saias.

A tendência das mulheres vaidosas é correrem atrás das modas, é de consumir tudo que a propaganda e a indústria da cosmetologia tentam vender, manipulando a vaidade feminina com a idéia de que a felicidade está diretamente relacionada à beleza e a aparência jovem, à magreza e a corpos musculosos, a formas voluptuosas e a cabelos perfeitos. Em assim sendo, institui-se o dogma da beleza e a tirania da juventude ditando o comportamento feminino.

E a palavras de ordem passam a ser: Academia, massagista, clínica de preenchimento com botox, implante de silicone, megahair, lipoaspiração e cirurgia plástica, além dos milagrosos potes de cremes. A personagem Melissa chega a falar com as células do rosto, enquanto passa cremes caríssimos importados, conforme lhe ensinou o vendedor do produto, prometendo-lhe um rejuvenecimento definitivo. Melissa pode parecer uma caricatura, um exagero, mas não é. Este tipo de mulher fútil, superficial e narcisista existe em profusão.

A psicóloga, pedagoga e escritora Neusa Padovani Martins, em um dos seus lúcidos artigos, dá o oportuno e importante grito de alerta às mulheres, que não posso deixar de transcrever aqui. Diz a autora: “[...] é urgente que se devolva às jovens e às mulheres em geral o senso principal da feminilidade, a questão da liberdade feminina de optar-se por ser como se quiser ser.

É necessário fazer com que uma jovem saiba que sua missão como mulher vai muito além do simples prazer que possa proporcionar com seu belo visual. É preciso fazê-la ver que sendo o verdadeiro foco do concorrido mercado da beleza, tornou-se submissa a ele pela própria característica que ele tem.

Ao vender sonhos de beleza eterna, a indústria da beleza vende a idéia de que para ser feliz é necessário ser bela para sempre, e só. Como se o saber e o fazer fossem componentes sem nenhum valor na personalidade de uma jovem. E embora o sábio mercado publicitário agregue à idéia da beleza o conceito da saúde e inteligência, fica implícita a mensagem de que para uma mulher Ter sucesso na vida ela tem que ser bela e eternamente jovem.

Fica aqui a pergunta: para que servirão as lições aprendidas em tantas lutas sociais que tiveram como bandeira a emancipação feminina? Será que ficaram perdidas num pote de um caro creme rejuvenescedor? Será que acabaram dentro de um mero tubo de tinta que servem apenas para esconder os cabelos brancos tão reveladores da falta de juventude? Será que ficaram calcadas nas finas linhas do tempo que insistem em vincar uma pele antes jovem e macia? Diga você, mulher, jovem ou não, para que serviram afinal tantas batalhas travadas pelas nossas avós?”

3 comentários:

Lily Luz disse...

Eva, já viu que tem presentinho pra ti lá no blog???
bjs!!!

Eva/RN disse...

Elis querida ontem fiquei sem computador até à noite, quando meu genro me trouxe um aparelhinho que acoplei no note book e , assim, pude ter aceso à net,
Sempre dou uma passadinha em meus blogs amigos, ontem não deu. Vou agora e de antemão já agradeço a gentileza.

Neusa Padovani Martins disse...

Olá Eva!

Sou Neusa, a escritora que você cita em seu excelente artigo acima. Antes de tudo quero lhe parabenizar pelo lindo e interessante blog. Acabei de saber que você fez a citação do meu texto através de um amigo. Dei uma espiada rápida nele e no seu excelente perfil e tão logo possa vou visitá-lo com calma, com certeza. Obrigada pela citação, fico feliz por você compartilhar de minhas ideias. Gostaria de falar mais com você. Por gentileza, me escreva, meu e-mail é npadovanimartins@terra.com.br. Tenho, há 4 anos, juntamente com minha família, o site www.sorocult.com e o recém lançado www.clipalavrademulher.com.br.Gostaria de divulgar seus espaços virtuais nos nossos sites e tê-la como colunista neles.
Fico no aguardo de seu contato, então. Bjs/Neusa