20 de agosto de 2009

A eterna juventude de uma velha senhora.

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Há meses passados, uma leitora insatisfeita com uma resposta minha às suas irreverências, chamou-me de velha e denominou-me Vovó Eva, com aquele tom de zombaria e de desrespeito que bem caracteriza certos jovens criados sem limites e sem as noções básicas de boa educação. Não fiquei chocada nem indignada, porque se há uma coisa com a qual eu convivo muito bem é com a minha idade e com as mudanças no meu físico, operadas pela passagem do tempo. Não nego a idade, não perdi a vaidade, amo a vida e não saberia viver como vive a maioria das pessoas da minha faixa etária.

Ontem, recebi uma mensagem pps que me trazia um texto, de autor desconhecido, com o qual me identifiquei profundamente, como se fosse eu mesma quem o tivesse escrito, falando de mim mesma. Como sei que, algumas pessoas que freqüentam o blog estão se aproximando da terceira idade, ou têm suas mãe já idosas, resolvi postá-lo para que reflitamos sobre o que é mesmo isto que chamam de velhice, o que é ser uma velha, como se sentem as pessoas que se aproximam da idade avançada, se é possível não envelhecer interiormente, avançando nos anos com a energia, a disposição para viver em plenitude, fruindo os prazeres e as alegrias que a vida proporciona. Vejamos o texto:

“Um dia desses uma jovem me perguntou como eu me sentia sobre ser velha. Levei um susto, porque eu não me vejo como uma velha. Ao notar minha reação, a garota ficou embaraçada, mas eu expliquei que era uma pergunta interessante, que pensaria a respeito e depois voltaria a falar com ela. Pensei e concluí: a velhice é um presente. Eu sou agora, provavelmente pela primeira vez na vida, a pessoa que sempre quis ser. Oh, não meu corpo! Fico incrédula muitas vezes ao me examinar, ver as rugas, a flacidez da pele, os pneus rodeando o meu abdome, através das grossas lentes dos meus óculos, o traseiro rotundo e os seios já caídos. E constantemente examino essa pessoa velha que vive em meu espelho (e que se parece demais com minha mãe), mas não sofro muito com isso.

Não trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, e o carinho de minha família por menos cabelo branco, uma barriga mais lisa ou um bumbum mais durinho. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais condescendente comigo mesma, menos crítica das minhas atitudes. Tornei-me amiga de mim mesma. Não fico me censurando se quero comer um bolinho-de-chuva a mais, ou se tenho preguiça de arrumar minha cama, ou se compro um anãozinho de cimento que não necessito, mas que ficou tão lindo no meu jardim. Conquistei o direito de matar minhas vontades, de ser bagunceira, de ser extravagante.

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar paciência no computador até às 4 da manhã e depois só acordar ao meio-dia? Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos das décadas de 50, 60, 70 e se, de repente, chorar lembrando de alguma paixão daquela época, posso chorar mesmo! Andarei pela praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulharei nas ondas e darei pulinhos se quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros. Eles, também, se conseguirem, envelhecerão.

Sei que ando esquecendo muita coisa, o que é bom para se poder perdoar. Mas, pensando bem, há muitos fatos na vida que merecem ser esquecidos. E das coisas importantes, eu me recordo freqüentemente. Certo, ao longo dos anos meu coração sofreu muito. Como não sofrer se você perde um grande amor, ou quando uma criança sofre, ou quando um animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão a força, a compreensão e nos ensinam a compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser forte, apesar de imperfeito.

Sou abençoada por ter vivido o suficiente para ver meu cabelo embranquecer e ainda querer tingi-los ao meu bel prazer, e por ter os risos da juventude e da maturidade gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes que seus cabelos pudessem ficar prateados. Conforme envelhecemos, fica mais fácil ser positivo. E ligar menos para o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Conquistei o direito de estar errada e não ter que dar explicações Assim, respondendo à pergunta daquela jovem graciosa, posso afirmar: “Eu gosto de ser velha”. Libertei-me!

Gosto da pessoa que me tornei. Não vou viver para sempre, mas enquanto estiver por aqui, não desperdiçarei meu tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupando com o que virá. E comerei sobremesa todos os dias e repetirei, se assim me aprouver… E penso que nunca me sentirei só. Sou receptiva e carinhosa, e se amizades antigas teimam em partir antes de mim, outras novas, assim como você, vêm a mim buscar o que terei sempre para dar enquanto viver: experiência e muito amor…”

Pode ser que para muitas pessoas a velhice seja sinônima de decadência física e mental, seja a fase da anulação do indivíduo, seja o marco para a desistência de fazer parte integrante e atuante na dinâmica da vida, seja sinônimo de inutilidade ou que represente a interdição do sonho e dos desejos, a abdicação da dignidade e da auto estima de quem mesmo estando vivo, torna-se o espectro de si mesmo. Para mim, a velhice é exatamente como a encara a jovem velhinha do texto: uma festa, uma celebração da vida e um ato de agradecimento a Deus por ter conseguido chegar até onde já cheguei, tão bem e tão saudável, varando as décadas, sem deixar jamais que a jovem que em mim existe se fosse embora.

6 comentários:

Marise disse...

Eu sou muito mais feliz hoje nos meus 47 anos do que fui nos meus 18. Eu tenho muito mais problemas, eu tenho muito mais responsabilidades, eu tenho pessoas que precisam de mim para viver e eu tenho muito mais alegria em fazer tudo isso. Eu aprendi muito, ainda tenho muito que aprender e quando nada mais tiver de aprender, ai sim, será hora de partir. beijos

Cride disse...

De minha parte, fui feliz em todos os anos de minha vida. Quando criança, mesmo apanhando dos meus pais. Quando adolescente, mesmo não tendo dinheiro para comprar roupas da moda, sair nas discotecas mais quentes, eu era feliz. Na fase adulta, casando, tendo filhos, trabalhando. Hoje, aos 49 anos, aposentada parcialmente, continuo trabalhando e me sentindo muito feliz, mesmo com flacidez, gordura em excesso, pneus, cabelos tingidos...
Por que? Porque me aceito deste jeito, não tento e nunca tentei ser mais ou menos do que sou ou fui. Considero minha mente progressiva demais para o meu corpo, mas já começo a achar que todos os velhos também acham o mesmo de si...e o envelhecimento do corpo é para nos lembrar sempre, da perenidade dele, e que não ficaremos aqui para sempre. A gente já não anda ou corre como antes. Pode-se até tentar reverter o declínio numa academia ou numa cirurgia plástica, mas o resultado será o mesmo...
Vivam o hoje, e o que podemos ter no presente, sempre, aceitando o que o tempo nos oferece.
Beijos a todos!

Anônimo disse...

Eva querida, já lhe disse em outras oportunidades o quanto lhe aprecio, sua vivacidade, seu bom humor, seu jeito de "ver" a vida e os seres humanos... tenho por vc uma grande admiração!!! Espero seguir-lhes os passos... (óh audácia!!!).
Hoje aos 50 também faço parte das que se aceitam, se gostam, procuram viver o "aqui e agora", o amanhã não nos pertence... faço academia pq sou sedentária (embora aposentada, ainda trabalho, e fico sentada o dia toooodo), não pinto os cabelos (ainda) pq por enqto as "mechas naturais" ainda são consideradas bonitas... estou acima do peso (não muiiiito), mas fazer o q??? parar de comer o chocolate diário (1 pedacinho pequeno), as lazanhas c/ molho branco(adooooro), as tortinhas de limão (de vez em qdo), nunca mais vou ter o corpitcho q tinha aos 18, 20 anos... temos q nos acostumar com tudo né mesmo???
O mais importante mesmo é continuar plantando, a colheita é consequência... até qdo Deus nos permitir permanecer por aqui.
Bj grande. Até. Sel

lene disse...

Eva,
como sempre,texto lindo que só se consegue ao chegar BEM na terceira idade ou IDADE DA SABEDORIA.
Quem for sábia chega como você,e muitos que assim chegaram .Eu quero ter este privilégio,se Deus assim permitir .Parabéns!

Eva/RN disse...

MAMIS, CRIDE, SEL e LENE

Eu gosto demais deste texto, porque me identifico com a velha senhora que viveu, viveu, chegou à terceira idade sem deixar que a jovem que exite nela se fosse embora, não perdeu a alegria de viver, ama-se tal como é, não se envergonha do corpo envelhecido e recusa-se a entregar os pontos. Pareço-me muito com ela.

Jane disse...

Eva querida,AMEI este texto !
Já se cansaram de me chamar de velha,mesmo!
É como respondo,quando me dá vontade:
"É sou velha...sortuda eu né?
Pq uma coisa é certa para todos - vamos todos morrer.Mas nem todos envelheceremos...Sou uma felizarda"
bjks amiga