20 de agosto de 2016

Flávia Saraiva, uma pequena grande atleta!



TALENTO Flávia na final da ginástica olímpica por equipes no Rio.A trave é sua especialidade (Foto: Lars Baron/Getty Images)

As mãos de Flávia Saraiva impressionam. São grandes, fortes. Chamam a atenção quando se conversa com a menina de 16 anos, 1,33 metro de altura, 31 quilos e voz de criança, que virou uma espécie de mascote olímpico do país. Na primeira semana da Olimpíada, a cada vez que seu nome era anunciado na Arena Olímpica, onde acontecem as competições de ginástica artística, a plateia em uníssono gritava “Flavinha”. Em um esporte que privilegia os mais baixos – quanto mais perto do chão estiver o centro de gravidade do ginasta, mais fácil manter o equilíbrio nas piruetas –, ela é a menor entre as competidoras que no domingo disputaram a final da trave.

Mas não se engane com a aparente fragilidade da atleta que posta fotos nas redes sociais com românticas coroas de flores na cabeça ou cercada pelos bichinhos de pelúcia de sua coleção. Flávia não tem só mãos fortes. Também tem personalidade. Ao enfrentar um batalhão de jornalistas na terça-feira, dia 9, depois de o time feminino ficar em último lugar na final por equipes, respondeu com voz firme – e fininha – àqueles que perguntavam por que o desempenho de algumas ginastas tinha sido tão pior do que na fase classificatória. “Porque no esporte é assim. Um dia você vai muito bem e no outro não. É claro que queríamos sair daqui com medalha, mas não deu. E, em um trabalho de equipe, a responsabilidade é de todas. O que as pessoas têm de pensar é que ficamos entre as melhores do mundo.” A colocação repetiu a obtida em 2008, em Pequim, e foi melhor do que o resultado de 2012, quando o Brasil chegou em 12o lugar e ficou fora das finais.

Flávia nasceu em Três Rios, cidade do interior do Rio de Janeiro. Está no 3o ano do ensino médio e pensa em se tornar fisioterapeuta. É apaixonada pelos Minions, os personagens que surgiram na animação Meu malvado favorito e ganharam vida própria. Tão apaixonada que a mãe, Fabia, fez um chapéu usando um Minion de pelúcia, que vem usando para acompanhar as participações da filha na Olimpíada.

O caminho para os Jogos começou aos 8 anos, quando a menina que preocupava a mãe com a mania de dar cambalhotas e ficar pendurada em uma goiabeira no quintal de casa, em Paciência, um bairro de classe média baixa na Zona Oeste do Rio, foi parar em um projeto social da treinadora Georgette Vidor, coordenadora da equipe brasileira. Na escola de iniciação esportiva, a garota baixinha e magrinha chamou a atenção. No ano em que o Rio foi escolhido como cidade sede dos Jogos, em 2009, ela começou a ser preparada para disputar de igual para igual com os grandes nomes da ginástica artística.

Sua especialidade é a trave. A certeza de que Flavinha tinha condições de ganhar uma medalha nesse aparelho levou a comissão técnica a decidir poupá-la da disputa individual geral – aquela em que vence quem somar mais pontos depois de passar por todos os aparelhos. Em seu lugar entrou Jade Barbosa, que abandonou a disputa ao se machucar em uma queda na apresentação de solo. Na trave, a ginasta ficou com a quinta posição. Simone Biles ficou com o bronze.

“É claro que é ruim não ganhar”, diz. “Mas estou aproveitando para olhar tudo e aprender com elas (a equipe dos Estados Unidos)”. Aprender e tietar. Na etapa classificatória, em alguns momentos, com discrição, ela fotografava as rivais. “Elas são mitos, não posso perder essa chance”, diz.



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