20 de março de 2021

Tenho muito mais passado do que futuro


                                         
Gostaria de deixar aqui, para meus amigos e amigas virtuais, algumas palavras de grande sabedoria que recebi de uma amiga muito querida, acredito que de muitas vidas passadas, desta que vivemos e de outras que ainda virão. Achei-a tão especial tão semelhante ao que sinto, penso e desejo, nesta talvez derradeira década de minha já alongada passagem pela existência, na qual estou vivendo, mais ou menos, como uma eremita, pouco saindo da minha casa, voluntariamente, e muito de bem com a vida, que resolvi enviá-la para as pessoas que, decerto, gostarão de lê-la. Acredito que ela vai ajudar a todos/as a compreenderem a minha drástica mudança de vida e o meu gostar da vida de recolhimento que escolhi para mim e do empenho que tenho em comer as minhas últimas jabuticabas até o caroço.  Apetitosas jabuticabas para vocês. Um abraço afetuoso de Eva.

“Contei meus anos e constatei que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltavam poucas, passou a roê-las até o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. 
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias, que nem fazem parte da minha. 
 Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. 
Já sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana: gente que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge de sua mortalidade, que defende a dignidade dos marginalizados e que deseja andar humildemente com Deus. Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo. 
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”

                                             

(Autor: Mário de Andrade)